“Picta Mundi” é a brilhante estreia
da blogueira Gleice Couto na literatura fantástica brasileira. A escritora, que também é
jornalista, realizou seu sonho de forma independente e vem conquistando muitos
leitores com sua história repleta de fantasia e aventuras.
O livro nos conta a história de
Letícia, uma adolescente que estuda no renomado colégio Dippel, um verdadeiro
reduto de alunos prodigiosos e um formador de futuros cientistas bem-sucedidos,
com uma grade curricular de dar inveja a muitas universidades de grande porte
por aí (até Etimologia os alunos aprendem). Mas Letícia está longe de ser uma
aluna exemplar aos padrões estabelecidos pela escola. Maquinando artimanhas
geniais e se envolvendo em situações hilariantes, a garota faz várias visitas à
sala da diretoria, que acaba lhe rendendo lições de moral e reprimendas
maçantes, as quais ela sempre contorna com sua astúcia e inteligência.
Mas toda essa fachada de
garota-problema na verdade esconde uma menina insegura, com o coração ferido
pelo misterioso desaparecimento do pai anos antes. Contudo, a vida de Letícia
sofre uma reviravolta quando um colega de escola, Daniel, afirma que pode
levá-la ao paradeiro do pai, que pode estar vivo em uma realidade dentro de
quadros, um mundo paralelo criado com técnicas mágicas e apuradas que escapam
até mesmo às célebres mentes de Da Vinci ou Portinari.
A partir dessa premissa, o leitor
é conduzido por uma jornada alucinante de aventuras cheias de suspense e
perigo. A narrativa de Gleice é envolvente e prende o leitor a cada página.
Nenhum capítulo ali é irrelevante. Todos os acontecimentos trazem um novo
aspecto para a história e, no final, as peças se encaixam perfeitamente.
Sim, o romance adolescente
existe, mas é comedido. Nada de cenas muito melosas ou frases piegas demais. A
química entre o casal é irreverente e proporciona momentos impagáveis ao leitor.
O vilão é um espetáculo à parte.
Donato é um personagem muito bem construído, dono de uma mente torpe e um
sádico desejo de poder. Embora nada justifique suas ações sanguinárias, você
consegue entender as circunstâncias que o levaram a ser dessa maneira. Nos
capítulos escritos a partir de seu ponto de vista, é perceptível o clima pesado
e a atmosfera sombria que se abatem sobre o texto.
Outro ponto forte do livro são os
conhecimentos que impregnam seu conteúdo. Gleice conseguiu construir um
infanto-juvenil inteligente, com conteúdo. Mesclados em meio às cenas de ação e
aos enigmas que os protagonistas precisam resolver, existem informações
científicas e dados sobre a história do Brasil, numa fórmula que foge
completamente ao didatismo cansativo e desestimulante.
Enfim, “Picta Mundi” é uma ótima
pedida para os amantes da ficção e uma obra enriquecedora para a literatura
fantástica nacional, que nada deixa a desejar aos veteranos do ramo. Duvido
que, depois de ler “Picta Mundi”, você tenha a mesma percepção ao admirar uma
pintura num museu ou em algum livro de História.
Resenha por: Tálison Felipe e Pedro Júnior.
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